Disseste um "também", em resposta ao meu "eu
te amo"
enquanto tomávamos café da manhã
Você quase não comeu nada, alegou indisposição
subiu as escadas depressa, mas com delicadeza
e eu fiquei parado, fingindo engolir o café
(já não
conseguia engolir mais nada),
só ouvindo o choro dos móveis:
abre-fecha, abre-fecha, abre-fecha
Fizeste as tuas malas devagarinho,
não esqueceu um grampo sequer
mas na penteadeira, ficou o cheiro da minha mulher
naquele espelho, o teu rosto
e nos lençóis, o teu corpo
como se tua presença independesse de você estar ali,
como se a tua alma estivesse presa a mim
naquele quarto, onde tantas vezes fomos nós
e as nossas almas se tornaram uma
Saíste sem dizer nada,
arrastando aquele tanto de malas
sem rancor ou raiva,
mas com aquela mesma doçura de sempre
e eu, como espectador dessa cena triste
emudeci!
palavras já não eram necessárias,
nós dois sabíamos,
quando o elevador chegou ao nosso andar,
que você nunca mais voltaria...
Agora, nesse apartamento vazio,
me atrevo a escrever poesia
pensando em nós,
lembrando daquela tua pele macia
e tão quente, tão sua, tão minha
...melhor parar por aqui, já chegou a melancolia
e essa estória já tá virando uma rima pobre.