quinta-feira, 23 de outubro de 2014

GOSTO DE BOCA

Dia desses, conversando com um amigo meu, ele disse gostar de beijo com gosto de boca. Curioso, perguntei o que seria o tal "gosto de boca". Questionei se poderia ser, talvez, um gostinho mentolado, de bala ou listerine. E ele disse que não, que não gosta de beijo asséptico, que gostava do gosto da boca mesmo. Tuti-frutti, nem pensar! Nem morango, nem chocolate ou vodca. Outra pessoa do grupo implicou dizendo que preferiria sempre uma boca com um quê de menta a uma fétida. Rimos e concordamos todos. Hoje, pensando sobre isso, entendi, finalmente, o "gosto de boca" que meu amigo tanto gosta. Todos nós temos cheiro, forma e sabor. Em cada pedacinho. Cada um tem o seu cheiro, o seu gosto, as suas formas. O gosto da boca é um dos sabores mais íntimos que uma pessoa pode ter. E só pode ser experimentado por quem tem a sensibilidade de compartilhar um beijo com os quatro sentidos. O beijo é quase um festival gastronômico. O beijo é gourmet. Beijar é isso e mais que isso: é o espetáculo completo! O beijo tem simetria, quando as bocas se encontram e os rostos ficam colados e se separam formando os narizes. Forma e contra-forma. O beijo tem som, tem ritmo, tem ginga. O beijo tem coreografia, ora as mãos estão nas costas, ora estão na nuca e tem quem desça mais um pouco. O beijo é um encontro, não só de línguas, mas, também, de dois num só gesto que diz - com a boca e sem palavras - um desejo. O beijo é uma troca, não só de saliva, mas de carinho, de sentimento compartilhado, de vontade... Quando o beijo não é mecânico, mas recheado de bem-querer, ele nunca é o mesmo. Então, me convenci que, realmente, cada um beija com o seu gosto, com sua dança, no seu compasso. E o espetáculo é único, íntimo e pessoal. Nós é que, às vezes, não sabemos aproveitar o presente por completo.


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