terça-feira, 28 de outubro de 2014

MAPA

Ah!
Se eu tivesse estudado mais cartografia
conseguiria, talvez,
desenhar meridianos, trópicos, círculos polares
delimitar os caminhos, ilhas, arquipélagos, rios e mares
acusar todos os pontos nodais
identificar todas as direções
que me levam até você

Ah!
Se pudéssemos estar juntos agora
poderia, quem sabe,
percorrer teu corpo sinuoso
– como se de curvas fosse feito meu desejo –
e chegar, enfim,
aonde sempre quis estar:
do lado de dentro




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

GOSTO DE BOCA

Dia desses, conversando com um amigo meu, ele disse gostar de beijo com gosto de boca. Curioso, perguntei o que seria o tal "gosto de boca". Questionei se poderia ser, talvez, um gostinho mentolado, de bala ou listerine. E ele disse que não, que não gosta de beijo asséptico, que gostava do gosto da boca mesmo. Tuti-frutti, nem pensar! Nem morango, nem chocolate ou vodca. Outra pessoa do grupo implicou dizendo que preferiria sempre uma boca com um quê de menta a uma fétida. Rimos e concordamos todos. Hoje, pensando sobre isso, entendi, finalmente, o "gosto de boca" que meu amigo tanto gosta. Todos nós temos cheiro, forma e sabor. Em cada pedacinho. Cada um tem o seu cheiro, o seu gosto, as suas formas. O gosto da boca é um dos sabores mais íntimos que uma pessoa pode ter. E só pode ser experimentado por quem tem a sensibilidade de compartilhar um beijo com os quatro sentidos. O beijo é quase um festival gastronômico. O beijo é gourmet. Beijar é isso e mais que isso: é o espetáculo completo! O beijo tem simetria, quando as bocas se encontram e os rostos ficam colados e se separam formando os narizes. Forma e contra-forma. O beijo tem som, tem ritmo, tem ginga. O beijo tem coreografia, ora as mãos estão nas costas, ora estão na nuca e tem quem desça mais um pouco. O beijo é um encontro, não só de línguas, mas, também, de dois num só gesto que diz - com a boca e sem palavras - um desejo. O beijo é uma troca, não só de saliva, mas de carinho, de sentimento compartilhado, de vontade... Quando o beijo não é mecânico, mas recheado de bem-querer, ele nunca é o mesmo. Então, me convenci que, realmente, cada um beija com o seu gosto, com sua dança, no seu compasso. E o espetáculo é único, íntimo e pessoal. Nós é que, às vezes, não sabemos aproveitar o presente por completo.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

UM ANO DE SILÊNCIO

Há um ano, resolvi dar fim a esse espaço. Mas, confesso que - apegado à tudo o que foi produzido, experimentado e desembrulhado nesse endereço - vez ou outra, voltava aqui para reviver coisas. Dizem que quem vive de passado é museu e eu discordo completamente. Nós somos um amontoado de passados. Nossas experiências estão todinhas em nós, marcadas, feito tatuagem na tez. E eu adoro recolorir as tatuagens bonitas que desenhei em minha vida. O nome desse espaço diz muito sobre isso. Eu me re-descubro todos os dias. Essa é uma graça, que recebemos de graça, na vida: o poder cíclico que algumas coisas boas têm. E até as ruins. Aprendemos muito com elas!

Bom, dito isso, estou aqui para re-inaugurar esse espaço. Mas ele não será o mesmo. Heráclito foi um cara muito esperto quando disse que não podíamos entrar num mesmo rio duas vezes... E não podemos mesmo! As águas já não são as mesmas e nem eu. Durante esse período sabático aqui no blog, eu não deixei de produzir. Escrever é quase que um exercício diário. Vivo poetizando o cotidiano. Essa é a minha maior e melhor fuga. 

Não tenho, rigorosamente, um estilo a ser seguido. Por isso, vou me dar maior liberdade de postar crônicas, textos, frases, poesias... qualquer rascunho de sentimento que possa tomar forma, virar palavra. O que eu desejo mesmo é que hajam trocas. Se houver umazinha que seja, já vai ter valido a pena. 

Um abraço,
Alysson