terça-feira, 31 de março de 2015

DISSESTE. FIZESTE. SAÍSTE.

Disseste um "também", em resposta ao meu "eu te amo"
enquanto tomávamos café da manhã
Você quase não comeu nada, alegou indisposição
subiu as escadas depressa, mas com delicadeza
e eu fiquei parado, fingindo engolir o café 
(já não conseguia engolir mais nada),
só ouvindo o choro dos móveis:
abre-fecha, abre-fecha, abre-fecha

Fizeste as tuas malas devagarinho,
não esqueceu um grampo sequer
mas na penteadeira, ficou o cheiro da minha mulher
naquele espelho, o teu rosto
e nos lençóis, o teu corpo
como se tua presença independesse de você estar ali,
como se a tua alma estivesse presa a mim
naquele quarto, onde tantas vezes fomos nós
e as nossas almas se tornaram uma

Saíste sem dizer nada,
arrastando aquele tanto de malas
sem rancor ou raiva,
mas com aquela mesma doçura de sempre
e eu, como espectador dessa cena triste
emudeci!
palavras já não eram necessárias,
nós dois sabíamos,
quando o elevador chegou ao nosso andar,
que você nunca mais voltaria...

Agora, nesse apartamento vazio,
me atrevo a escrever poesia
pensando em nós,
lembrando daquela tua pele macia
e tão quente, tão sua, tão minha
...melhor parar por aqui, já chegou a melancolia

e essa estória já tá virando uma rima pobre.

2 comentários:

  1. Não, é um poema perfeito...Gostei muito.
    Obrigada pela visita.
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Grato! E bisando a gratidão: pela visita cara e pela cara descoberta daqui - mais bacana ainda quase poder tocar esta diáfana crônica poética de uma aparentemente corriqueira separação... Já redescobrindo - abraço!

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Obrigado pela visita e comentário. Que possamos redescobrir sempre, e sempre juntos, muitas coisas boas!