sábado, 3 de janeiro de 2015

"EUMAR"

está quente e, mesmo que não estivesse,
minhas emoções transformam qualquer neblina em calor de quarenta graus
minha alma fervendo, ebulindo a cabeça
foi quando a pele - pegando fogo - se encontrou com a água gelada de Copacabana
e nus, nos tornamos um só elemento, um só corpo, uma só paz
enquanto ouvia um canto gregoriano - triste! - ao fundo
a água gelada parecia preencher todos os meus poros
os pulmões ainda relaxados, involuntariamente, se enchiam, devagarinho, de ar
permaneci estático, como um objeto perdido naquelas águas salgadas
oferenda que Iemanjá "injeitou"
e uma paz imensa invadiu meus pensamentos
aquela paz que dizem que só sentimos quando temos certeza que a morte está chegando
me senti eternizado numa pintura de Monet, ali, naquele lugar, naquela sentença
eternizado nas pinceladas do meu pintor favorito, que jeito bonito de partir...

mesmo ensaiando minha partida, o corpo começou a subir
e eu emergi do mergulho, da quase-morte, do possível fim
e as narinas puxaram o ar com urgência, enchendo os meus pulmões
o corpo reagiu, uma vontade feroz de viver
- eu quero viver! -
eu e o mar fizemos amor aquele dia, de forma intensa, visceral
e, desde então, nunca mais fui eu inteiro
o pronome, assim, certinho, primeira pessoa do singular...
sou metade eu, metade mar: eumar

[vezenquando deságuo, vezenquando é preciso empoçar]

8 comentários:

  1. Um excelente poema para a minha estreia, aqui, em seu espaço. Obrigada pelas palavras deixadas no meu "Ortografia". Passarei aqui outras vezes.
    Abraço e bom Ano.

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    1. Obrigado, Graça! Fico feliz que tenha vindo aqui e gostado do que escrevo. Um super abraço!

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    1. Dessas difíceis da gente voltar...
      Obrigado pela visita! Forte abraço!

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  3. Excelente texto. Obrigada pela visita ao sexta. Vou voltar. Volto sempre quando um blogue me agrada.
    Um abraço

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    1. Obrigado pelos elogios! Volte sim, sempre que quiser e puder, ficarei muito feliz! Abração!

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  4. Uma fusão sem definição...o amor em pleno.

    Beijinhos


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    1. É verdade, Pérola. Plenitude, essa é a palavra!
      Obrigado pela visita e pelos doces "beijinhos", outros tantos prá você!

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Obrigado pela visita e comentário. Que possamos redescobrir sempre, e sempre juntos, muitas coisas boas!